Para produzir/compreender e analisar um texto são necessários não só conhecimentos linguísticos (conhecer o vocabulário, a gramática da língua – suas regras morfológicas e sintáticas), mas também conhecimentos extralinguísticos (de mundo, enciclopédico, históricos, culturais, ideológicos de que trata o texto) que permitirão dizer a que formação discursiva pertence e a que formação ideológica está ligado. Outro aspecto a se observar é a relação complementar entre o semântico e o semiótico, pois ao semiótico se agrega a noção de compreensão, que é do semântico.
Cartaz – “Saímos do facebook”
Conforme estudos e pesquisas para a produção e apresentação da análise linguístico- discursiva do cartaz foram apresentadas algumas alterações e complementos para o texto final. O site de onde extraiu-se a imagem foi o ponto de partida para a análise. A foto foi postada por Lúcio Carvalho, coordenador-geral da revista digital Inclusive – Inclusão e Cidadania e publicada em um domingo, dia 16 de junho de 2013. O título do artigo denomina-se Passe livre para grandes expectativas e faz uma comparação de 21 anos entre as recentes mobilizações e o movimento Fora-Collor de 1992. Momento em que a população tomou as ruas para aclamar por seus direitos civis e sociais.
É muito provável que boa parte dos adolescentes que foram às ruas na última semana em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e cerca de outras quinze cidades, tendo como principal bordão o aumento das tarifas do transporte coletivo, sequer tenham nascido antes de 1992, quando os adolescentes de então pintaram o rosto de verde-amarelo e ganharam as avenidas pedindo o impeachment do Presidente Fernando Collor de Mello. Não é de se imaginar, portanto, que se trata de pessoas que tenham aprendido a lição dos mais velhos, assim como aqueles por certo não aprenderam com os manifestantes do movimento Diretas-Já, que ocorrera dez anos antes, em 1983, no que seria, para os manifestantes de agora, algo tão remoto quanto a Revolta da Chibata ou o golpe militar de 1964, assim como o respectivo movimento estudantil dos anos de chumbo. Carvalho (2013).
Para um pano de fundo dos protestos, Carvalho parte de outras análises e diferencia as recentes manifestações sociais no Brasil com as de outros movimentos, explicitando que não havia uma pauta específica, bandeiras ou partidos políticos que os representassem. A presença de jovens em sua maioria, em busca de uma identidade e representatividade social. No mesmo artigo o autor enfatiza sobre o ciclo de conferências do sociólogo espanhol Manuel Castells, que conferenciou em São Paulo e Porto Alegre sobre o tema “Redes de indignação e esperança – movimentos sociais na era da internet”, Carvalho (apud Castells,2013) falou sobre os pontos em comum entre os movimentos que ganharam corpo a partir do uso massivo da comunicação horizontal das redes sociais e da importância das imagens – principalmente as de repressão aos protestos – como elemento de motivação e indignação civil. E que segundo Carvalho (apud Castells, 2013) “as imagens indignantes divulgadas pela internet foram as detonadoras de todos esses movimentos”. Em última análise Carvalho define a imagem:
Uma das tantas imagens que circularam nas redes sociais no fim de semana mostrando um jovem carregando um cartaz onde se pode ler a frase “Saímos do Facebook” é possivelmente uma das mais emblemáticas dos eventos. Até mais do que as imagens que registraram a violência da policia militar paulista contra jornalistas, a fotografia diz muito a respeito do sentimento da novíssima geração de manifestantes. Trata-se de uma geração sobretaxada de adjetivos pouco elogiosos. São os “alienados da internet”, os “indignados de sofá” que, seguindo o exemplo de jovens que, como eles, tomaram as ruas em diversos lugares do mundo por outras razões que não o custo da passagem de ônibus, saíram pelo menos de casa, que ao Facebook provavelmente continuam conectados nos seus smartphones. Mas a imagem indubitavelmente responde a uma provocação patente, ou talvez até mais que isso, a um tipo peculiar de menosprezo que os mais velhos costumam ter para com os adolescentes. Talvez se trate de amargura pura e simples, o fato é que o comportamento impõe um distanciamento destes em relação aos mais jovens, como se lhes fosse repetida a mimetizada frase “não me representa”. De fato, seus representantes estão mesmo em outro lugar, ocupando não as ruas, mas os cargos políticos, escolhidos através dos tradicionais esquemas representativos que os manifestantes de agora parecem menosprezar. Carvalho (2013).
Partindo das observações de Carvalho, o Grupo A inicia sua análise linguístico-discursiva do cartaz, destacando a retórica textual na frase/enunciado Saímos do Facebook. Flores et al (2013) afirma que a frase/enunciado é a unidade do discurso e pode ser constituída por apenas uma palavra ou por mais palavras, não importando quantas sejam. Frase ou enunciado é o dizer do sujeito, idéia materializada para atribuição de referência. É sempre única, porque é manifestação da atitude do sujeito e da situação enunciativa: é relativa a eu-tu-aqui-agora. A frase, por expressar eu-tu-aqui-agora, é fugaz. Assim que a palavra é tomada por aquele a quem a frase se dirige, a frase se renova: renovando-se a situação enunciativa, a idéia que se apresenta é outra. Assim, a frase é sempre nova e não repetível. Mesmo que, por sua constituição, a frase pareça ser a mesma, as circunstâncias não são as mesma, daí a frase ser diferente. A enunciação é um acontecimento irrepetível, porque são irrepetíveis as condições de tempo, espaço e pessoa de cada enunciação. Flores et al (apud Benveniste, 1989:83) “Na enunciação consideraremos, sucessivamente, o próprio ato, as situações em que ele se realiza, os instrumentos de sua realização”. A partir da fotografia é possível descrever como se dá a tradução de categorias de ordens distintas e como, por meio da figurativização e de sua manifestação plástica, cada tipo de categoria plástica pode contrair relações semissimbólicas diferentes com a mesma categoria de conteúdos, no caso o jovem em plena mobilização e a outra categoria o cartaz que segura. Nesse ponto temos como produto da análise a enunciação (o processo) que só pode ser analisado a partir das marcas que deixa no produto (enunciado). A estrutura enunciativa é uma instância pressuposta que está na origem de todo e qualquer enunciado. Ela não é observável em si, por natureza, ela é efêmera. Na enunciação relacionamos a foto ao enunciado do cartaz, assim, na imagem vemos um jovem vestido de preto segurando o cartaz e direcionando sua vista para frente, ou seja, o progresso, a visibilidade da luta, do enfrentamento e a decisão em mudar o país. Outro aspecto a se considerar é o cromatismo das letras – o verde que representa a esperança, o alvorecer de uma nova realidade em contraposição ao preto da vestimenta do jovem, que significa o luto pelo país.
A palavra imagem, frequentemente utilizada nos estudos de semiótica plástica é polissêmica, por isso gera ambiguidade indesejáveis nos discursos. Fala-se em imagem da fotografia, da pintura, da escultura, da arquitetura etc., sugerindo que ‘imagem’ se refere a qualquer manifestação numa semiótica plástica. Quando a palavra ‘imagem’ aparece em estudos de semiótica aplicada a esse domínio da expressão, entende-se ‘imagem’ como aquilo que se pode ver. Desse modo, os registros das línguas naturais também são imagens. Qualquer palavra – própria das semióticas verbais -, quando escrita é antes vista que ouvida, o que faz desse registro linguístico uma semiótica sincrética em que se combinam palavra e imagem escrita. Por pertencer aos domínios do visível, trata-se apenas de reconhecer a plasticidade da escrita e incluí-la nos domínios em que o conceito de ‘imagem’ se confunde com a plasticidade da expressão. Pietroforte (2013, p.33).
O suporte utilizado para o cartaz é o papel cartolina de cor amarela, que combinado ao verde representa o cromatismo de vários movimentos sociais brasileiro, como o movimento Fora-Collor, em que os jovens pintavam seus rostos com essas cores, simbolizando a luta pela democracia, em uma visão patriótica, em um claro redescobrimento de nossa nação. O pano de fundo dos protestos é uma elevação nos preços dos ônibus urbanos no Brasil nos últimos anos. É lugar-comum os governantes afirmarem que a prioridade nas cidades deve ser dada ao transporte público. Mas, de fato, a variação dos custos de transportes medida pelo IPCA mostra que as tarifas de ônibus subiram 192% de 2000 a 2012, bem acima da inflação (125%) e muito mais do que os gastos com carro e moto (44%). Na prática, o transporte individual ganhou terreno, e a situação piorou para os que usam o coletivo. O estopim dos protestos em São Paulo foi o aumento da tarifa de ônibus, metrô e trens urbanos de R$ 3,00 para R$ 3,20, em 1º de junho de 2013. Os alvos eram multipartidários: o prefeito Fernando Haddad, do PT, e o governador Geraldo Alckmin, do PSDB. Quando as manifestações paulistanas começaram, já haviam ocorrido protestos em Natal(RN), Goiânia(GO) e Porto Alegre(RS) – e, nesta última conseguiu-se a redução da tarifa. Após o anúncio do aumento, pipocavam protestos em bairros, até a primeira manifestação chamada pelo Movimento Passe Livre(MPL), em 6 de junho, no centro de São Paulo. Nos idas 7 e 11, houve novos atos reunindo milhares de pessoas. A principal reivindicação: revogação do aumento da tarifa. A tensão subiu, havia atos de vandalismo, e as autoridades mantinham-se impassíveis.Em 13 de junho, dia do quarto ato e data do cartaz usado para análise linguístico-discursiva, os jornais exigiram o respeito à ordem. “Chegou a hora do basta”, declarou oEstado de S. Paulo. “É hora de pôr um ponto final nisso”, bradou a Folha de S. Paulo. Ànoite, um forte aparato policial prendeu jovens, antes do início de qualquermanifestação, pelo simples fato de portarem vinagre – que alivia os efeitos do gáslacrimogêneo. Na hora da passeata, a Tropa de Choque atacou com grande violência “sem ter sido agredida”, segundo narrou a própria Folha de S. Paulo no dia seguinte.Mais de cem pessoas saíram feridas, algumas com gravidade.A indignação com a violência se espraiou por setores da sociedade como um choque elétrico. As redes sociais, como o Facebook e o Twitter, principais ferramentas para a convocação dos atos, potencializaram a revolta. Muita gente que não se sensibilizou com o preço do transporte desta vez foi à rua. Com as manifestações de junho de 2013 uma nova fase se aproxima e o eu enunciador exige mudanças radicais. Observa-se na foto que o jovem é o único entre o grupo que possui um cartaz e o segura com determinação e afinco. Remetendo a outras vozes, o sujeito do discurso se constitui numa relação de alteridade. O sujeito se reconhece na relação com outros discursos produzidos, com eles dialogando, como a interdiscursividaderelacionado à campanha do whisky Johnnie Walker usado como símbolo dos manifestos de junho de 2013 cujo tema foi: “O Gigante não está mais adormecido” e também os caras-pintadas.
Os caras-pintadas foi o nome pelo qual ficou conhecido o movimento estudantil brasileiro realizado no decorrer do ano de 1992 que teve, como objetivo principal, o impeachment do presidente do Brasil na época, Fernando Collor de Melo. O movimento baseou-se nasdenúncias de corrupção que pesaram contra o presidente e, ainda, em suas medidas econômicas impopulares, e contou com a adesão de milharesde jovens em todo o país. O nome "caras-pintadas" referiu-se à principal forma de expressão e símbolo do movimento: as cores verde e amarelo pintadas no rosto dos manifestantes. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Caras-pintadas |
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Editorial do jornal O Estado de S.Paulo BADERNA EM SÃO PAULO: CHEGOU A HORA DO BASTA No terceiro dia de protesto contra o aumento da tarifa dos transportes coletivos, os baderneiros que o promovem ultrapassaram, ontem, todos os limites e, daqui para a frente, ou as autoridades determinam que a polícia aja com maior rigor do que vem fazendo ou a capital paulista ficará entregue à desordem, o que é inaceitável. Durante seis horas, numa movimentação que começou na Avenida Paulista, passou pelo centro – em especial pela Praça da Sé e o Parque Dom Pedro – e a ela voltou, os manifestantes interromperam a circulação, paralisaram vasta área da cidade e aterrorizaram a população. O vandalismo, que tem sido a marca do protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), uma mistura de grupos radicais os mais diversos, só tem feito aumentar. Por onde passaram, os cerca de 10 mil manifestantes deixaram um rastro de destruição – pontos de ônibus, lojas, nove agências bancárias e ônibus depredados ou pichados. Uma bomba foi jogada na Estação Brigadeiro do Metrô e a Estação Trianon teve os vidros quebrados. Em algumas das ruas e avenidas por onde circularam, principalmente a Paulista, puseram fogo em sacos de lixo espalhados para impedir o trânsito e dificultar a ação da Polícia Militar (PM). Atacada com paus e pedras sempre que tentava conter a faria dos baderneiros, a PM reagiu com gás lacrimogêneo e balas de borracha. O saldo foi de 20 pessoas A PM agiu com moderação, ao contrário do que disseram os manifestantes, que a acusaram de truculência para justificar os seus atos de vandalismo. Num episódio em que isso ficou bem claro, um PM que se afastou dos companheiros, nas proximidades da Praça da Sé, quase foi linchado por manifestantes que tentava conter. Chegou a sacar a arma para se defender, mas felizmente não atirou. Em suma, foi mais um dia de cão, pior do que os outros, no qual a violência dos manifestantes assustou e prejudicou diretamente centenas de milhares de paulistanos que trabalham na Paulista e no centro e deixou apreensivos milhões de outrosque assistiram pela televisão às cenas de depredação. O reconhecimento por parte de dirigentes do MPL de que perderam o controle das manifestações, assim como a diversidade dos grupos que o compõem – anarquistas, PSOL, PSTU e juventude do PT, que têm em comum o radicalismo não atenuam a sua responsabilidade pelo fogo que atearam. Embora fragmentado, o movimento mantém sua força, porque cada grupo tem seus líderes, e eles já demonstraram sua capacidade de organização e mobilização. Sabem todosmuito bem o que estão fazendo. A reação do governador Geraldo Alckmin e do prefeito Fernando Haddad – este apesar de algumas reticências – à fúria e ao comportamento irresponsável dos manifestantes indica que, finalmente, eles se dispõem a endurecer o jogo. A atitude excessivamente moderada do governador já cansava a população. Não importa se ele estava convencido de que a moderação era a atitude mais adequada, ou se, por cálculo político, evitou parecer truculento. O fato é que a população quer o fim da baderna – e isso depende do rigor das autoridades. De Paris, onde se encontra para defender a candidatura de São Paulo à sede da Exposição Universal de 2020, o governador disse que “é intolerável a ação de baderneiros e vândalos. Isso extrapola o direito de expressão. É absoluta violência, inaceitável”. Espera-se que ele passe dessas palavras aos atos e determine que a PM aja com o máximo rigor para conter a fúria dos manifestantes, antes que ela tome conta da cidade. Haddad, que se encontra em Paris pelo mesmo motivo, também foi afirmativo ao dizer que “os métodos (dos manifestantes) não são aprovados pela sociedade. Essa liberdade está sendo usada em prejuízo da população”. Mas insinuou que por trás das manifestações há pessoas que não votaram nele. A gravidade da situação exige que o prefeito esclareça se com isso quis dizer que a oposição é responsável pela baderna. Fonte: https://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/baderna-em-sao-paulo-chegou-a-hora-do-basta/ Após prisões, manifestantes criam marcha para 'legalizar o vinagre' NATALIA JULIO, WESLEY KLIMPEL e YASMIN ABDALLA Vinagre balsâmico, branco ou tinto? Qual deles pode ser levado à Marcha pela Legalização do Vinagre? Essas e outras dúvidas estão sendo levantadas na página do Facebook criada para o evento, após o quarto protesto contra o aumento da tarifa do transporte coletivo, nesta quinta-feira (13), em São Paulo. Uma das perguntas feitas é se o produto combina com coxinha. A resposta mais votada, até agora, é que não, pois o "vinagre tempera e deixa a salada gostosa. A coxinha ATACA minha gastrite". Com mais de 29 mil pessoas confirmadas, o evento, cujo lema é "Liberté, Egalité, Fraternité, Vinagré", não aparenta querer sair do virtual. Nas redes sociais, o filme britânico "V de Vingança", dirigido pelo cineasta James McTeigue, é parodiado. O herói do filme, V, se tornou "V de Vinagre", tendo o molho como símbolo de revolta popular. Até a Wikipédia se rendeu ao poder do líquido e já classifica a série de protestos como a Revolta do Vinagre (ou Revolta da Salada). Outros memes com a substância também foram criados no Twitter e no Instagram, cujas brincadeiras utilizam o líquido como se fosse uma droga ilegal. O termo Vinagre também chegou aos trendingtopics Brasil no Twitter. O produto foi também lembrado em coro durante a manifestação, quando jovens gritavam "ei, polícia, vinagre é uma delícia". "Quando se faz uma abordagem não se sabe exatamente que tipo de produto é aquele. Isso foi objeto de esclarecimento no distrito policial e todas essas pessoas foram liberadas", disse o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella.
AÇÃO DO VINAGRE
O vinagre costuma ser usado em confrontos com a polícia por amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo, já que ao ser inalado ajuda a desobstruir as vias respiratórias. No protesto realizado na quinta, algumas pessoas foram detidas por "porte de vinagre", como o repórter da "Carta Capital" Piero Locatelli.
Durante a concentração, às 17h, em frente ao Theatro Municipal, policiais estavam revistando manifestantes à procura do líquido. Eles alegavam que o produto pode dar origem a uma bomba, o que acontece caso o vinagre seja misturado com bicarbonato de sódio --uma experiência frequente em aulas de química em escolas, por exemplo.
A procura pelo produto continuou mesmo após o fim dos confrontos, quando policiais revistavam grupos de jovens nas ruas do Centro. A polícia deteve, ao longo de todo o quarto dia de protesto, ao menos 235 pessoas. Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/06/1295093-apos-prisoes-manifestantes-criam-marcha-para-legalizar-o-vinagre.shtml |
O sujeito do discurso é um ser que ocupa um lugar social e que, a partir do espaço, enuncia, inserido no processo histórico que lhe permite determinadas inserções e não outras, como algumas marcas temporais e aspectuais dos verbos que se ressignificam nas operações discursivas realizadas no processo de enunciação em que figuram. Com isso ao se analisar o processo semiótico do cartaz é capaz de se gerar a semântica discursiva e da sintaxe e com isso mostrar como o verbo, seu sujeito e complementos a manifestam em semiótica verbal por meio de marcadores das categorias de pessoa, tempo e espaço, próprios desse sistema. Enfatiza-se o sujeito/ator histórico e ideológico, situado em um momento específico dos movimentos sociais de junho no Brasil, onde as ruas foram tomadas pelo povo e assim, reivindicar por demandas sociais. Em um campo de contextualização coletiva, o pronome encontra-se oculto, temos um sujeito desinencial de primeira pessoa do plural representado por (nós). O coletivo representado de forma implícita,reflete os valores, as crenças de um momento histórico e um grupo social, indagando, questionando e pronto para ser o centro de uma grande transformação ou uma revolução. O sujeito do discurso (falante/locutor) compreende as relações que mantém com o contexto situacional das mobilizações sociais de junho de 2013, abrange, sobretudo, os procedimentos do discurso, os saberes, as opiniões e as crenças que possui e que supõe serem compartilhadas por seu interlocutor. O sujeito divide o espaço de seu discurso com o outro, na medida em que ajusta sua atividade enunciativa, tendo em vista o outro. A pergunta que se faz é quem é o sujeito polifônico que saiu do facebook, toda a população ou uma parcela que se se conecta a um plano virtual, em uma realidade congruente aos princípios da revolução digital? Os dados comprovaram que a maioria eram jovens, filhos das Diretas-Já, do movimento Fora-Collor e de outras mobilizações decorrentes dos anos 1980 e 1990. Esta nova geração que participa ativamente dos componentes interativos através de redes sociais e outros sites de relacionamento em uma visão mais globalizada, conectando e direcionando suas ideias, anseios e demandas em uma amplitude fenomenal. O sujeito ideológico do discurso (nós) refere-se, principalmente, à geração presente ao final do segundo milênio e do novo. Assim define Marilena Chaui, filósofa e professora na FFLCH da Universidade de São Paulo:
Nas décadas de 1970 a 1990, as organizações de classe (sindicatos, associações, entidades) e os movimentos sociais e populares tiveram um papel político decisivo na implantação da democracia no Brasil pelos seguintes motivos:introdução da ideia de direitos sociais, econômicos e culturais para além dos direitos civis liberais; afirmação da capacidade auto-organizativa da sociedade; introdução da prática da democracia participativa como condição da democracia representativa a ser efetivada pelos partidos políticos. Numa palavra: sindicatos, associações, entidades, movimentos sociais e movimentos populares eram políticos, valorizavam a política, propunham mudanças políticas e rumaram para a criação de partidos políticos como mediadores institucionais de suas demandas.Isso quase desapareceu da cena histórica como efeito do neoliberalismo, que produziu:
• fragmentação, terceirização e precarização do trabalho (tanto industrial como de serviços), dispersando a classe trabalhadora, que se vê diante do risco da perda de seus referenciais de identidade e de luta;
• refluxo dos movimentos sociais e populares e sua substituição pelasONGs, cuja lógica é distinta daquela que rege os movimentos sociais;
• surgimento de uma nova classe trabalhadora heterogênea, fragmentada, ainda desorganizada que, por isso, ainda não tem suas próprias formas de luta e não se apresenta no espaço público e, por isso mesmo, é atraída e devorada por ideologias individualistas como a “teologia da prosperidade” (do pentecostalismo) e a ideologia do “empreendedorismo” (da classe média), que estimulam a competição, o isolamento e o conflito interpessoal, quebrando formas anteriores de sociabilidade solidária e de luta coletiva. Erguendo-se contra os efeitos do inferno urbano, as manifestações guardaram da tradição dos movimentos sociais e populares a organização horizontal, sem distinção hierárquica entre dirigentes e dirigidos. Mas, diversamente dos movimentos sociais e populares, tiveram uma forma de convocação que as transformou num movimento de massa, com milhares de manifestantes nas ruas.Chaui (2013).
O verbo sair de etimologia latina do infinitivo salir e possui várias acepções conforme o site https://pt.wiktionary.org/wiki/sair das definições descritas a que mais se enquadra em nossa análise da frase “Saímos do Facebook” corresponde ao significado de “reagir”, “deixar”, “ir à rua”. Em uma concepção analítica, os jovem foram às ruas participar das mobilizações sociais, deixaram suas casas, seu ambiente virtual e reagiram contra o governo. O verbo é a vida de a frase ou da oração. É,pois, um termo muito forte, muito expressivo. E, apreendido em sua profundidade semântica, denota por si só enorme importância no estudo de uma língua. Sua presença é imprescindível para que a comunicação se concretize em sua plenitude. Sair é um verbo que denota ação que parte do sujeito do discurso que ocupa um lugar social, que, a partir desse espaço, enuncia, sempre inserido no processo histórico que lhe permite determinadas inserções e não outras. Ao lado das noções de tempo, modo, pessoa, número e voz, as formas verbais expressam certas peculiaridade de sentido, os aspectos, que tornam tão especial esse fenômeno gramatical que é o verbo. “Saímos do Facebook” –de acordo comVargas (apud Benveniste,1976: 286) o sujeito do discurso (nós – primeira pessoa do plural) compreende as relações que o sujeito mantém com o contexto situacional de comunicação em que se encontra; abrange os procedimentos de discursivização, os saberes, as opiniões e crenças que esse sujeito possui e que supõe serem compartilhadas por seu interlocutor. A subjetividade essencial da expressão linguística implica, portanto, que se considerem os processos sempre como são concebidos pelo falante, e não necessariamente como se dão, na realidade. Sendo assim, conforme bem esclarece Vargas (apud Costa,1990;29), em relação ao aspecto, “a produção do enunciado parece mais adequadamente analisada a partir de um enfoque ligado ao maior ou menor grau de expressividade de que o falante quer carregar o seu enunciado”. Vargas (2013, p.135) considera que embora essa categoria se situe como uma categoria verbal, sofre influência dos mais diversos elementos frasais. Assim o aspecto caracteriza-se como um fenômeno que depende do contexto não só linguístico, mas também do extralinguístico.
O verbo “sair” encontra-se no tempo presente da primeira pessoa do plural do modo indicativo. Podemos reconhecer que o sujeito/falante, ao expressar-se de uma forma que imprime certeza ao que diz, quer em relação ao presente, quer em relação ao passado, quer em relação ao futuro faz uso do modo indicativo em uma ação que se desenvolve no próprio presente, em que o momento do evento descrito coincide com o do ato de enunciação que o descreve. Por serem importantes elementos na produção do sentido dos textos, as formas verbais não podem ser analisadas apenas em sua constituição morfológica ou por meio de sua função sintática. “Saímos do facebook” - por tratar-se de um tempo que denota o espaço temporal no momento em que ocorre a situação, otempo é considerado uma categoria dêitica. Indica, em relação ao momento da fala, se a situação a que nos referimos é anterior(passado), simultânea(presente) ou posterior (futuro) a ele. Em uma análise mais ampla, refletindo sobre a foto e o cartaz, temos uma situação presente – os fatos acontecem simultâneos aos atos de protestos e anterior por já sentirem aptos ao desenvolvimento da ação de não estar mais em uma esfera virtual, coexistindo o presente e o passado. Porém com uma expectativa futura de mudanças. Vagas (2013, p. 40-41) destaca que o presente do indicativo quando denota uma ação do passado ganha um novo valor expressivo- quem fala/escreve parece pretender abolir a distância entre os leitores e os fatos narrados; “presentifica-os” diante do interlocutor, possibilitando, assim, uma melhor compreensão desses fatos. A substituição do pretérito, que é o “tempo do mundo narrado”, pelo presente, que é o “tempo do mundo comentado”, promove, sem dúvida, um marcante efeito de “presença”, ou seja, de construção de sentido compartilhada pelos interlocutores, de modo simultâneo, intemporal. O contexto e a situação operam conjuntamente para determinar a significação das palavras de acordo com a intenção do falante, fixando, assim, o sentido do discurso. Na análise do cartaz em relação à foto, observa-se que o fato se desenvolve no momento que idealmente se situa o falante e contemporâneo ao momento da enunciação, que é expresso pela forma verbal de presente do indicativo, mas se analisar separadamente poderemos ver a enunciação do cartaz como uma presentificação, tornando-o intemporal.
Importa verificar em que medida os aspectos verbais contribuem para construção do sentido dos textos e o quanto refletem a intenção do sujeito que as seleciona para comunicar-se, oralmente ou por escrito. O verbo sair em sua relação sintática é intransitivo, pois não necessita de complemento, mas vale lembrar que, em geral, as formas verbais são acompanhadas dos chamados termos acessórios das orações, especialmente dos adjuntos circunstanciais de tempo, modo, intensidade, proporção etc., Na análise observamos a presença do adjunto circunstancial de lugar “do facebook” em relação ao sujeito do discurso em sua enunciação. Essa circunstância apresenta nuança de movimento ou de “aspecto” e contribui assim, para a formação de sentidos do enunciado. Temos uma locução adverbial com circunstância de lugar “do facebook”, composta por uma contração do (preposição de + artigo o) + substantivo facebook. A preposição “de” tem uma integração (processo enunciativo de relação de sentido da locução com outros signos-palavra para a constituição da referência do enunciado), por correferência (processo enunciativo no qual dois ou mais signos-palavra estão em identidade de sentido, por fazerem referência a um mesmo tema) em relação ao verbo sair e o substantivo facebook. Em uma análise linguístico-discursiva, temos um substantivo masculino e singular, relacionado a uma palavra estrangeira usada principalmente nas redes sociais e de abrangência mundial. As manifestações sociais brasileiras e Movimentos das Ruas em grande parte começou através das Redes Sociais como Facebook, Twitter entre outros. Crevilaro (2013) afirma que as Redes Sociais e a internet já se tornaram em grande parte a pauta de conversas dos brasileiros, sobretudo em relação aos jovens. Com isso é normal que as mídias tradicionais utilizem esse apelo para saber conversar melhor com esse público. O autor destaca também que épreciso relembrar que a Internet surgiu a partir de pesquisas militares nos períodos áureos da Guerra Fria na década de 60, ou seja, ainda é uma invenção recente para os nossos dias.
As Redes Sociais ainda são mais novas no seu uso para a comunicação e estão tomando destaque em todas as classes sociais,pois a tecnologia de hoje permite que elas sejam acessíveis para boa parte da população.Antes mais nada é preciso analisar atentamente os canais que são usados nas Redes Sociais, diferente da Mídia Tradicional hoje as pessoas é que se tornaram os seus próprios canais, vide o Youtube que possui uma série de pessoas que utilizam-se de Vlogs, Blog de vídeos para transmitir conteúdos, ideias e produções em geral. Os mais conhecidos são PC Siqueira, Cauê Moura, Kéfera, Felipe Neto entre outros. A partir destes Canais houve uma mobilização para o público que seguem essas pessoas em seus perfis e os mesmos postam e compartilham no Facebook, Twitter as ideias transpassadas de um modo geral, uma consciência dos assuntos que deveriam ser destaque da nação sobre os investimentos necessários. Muitas vezes o público da Internet não entende o ritmo devagar com que as instituições levam os assuntos para o ‘‘mundo offline” com burocracia. Por um bom tempo houve um paradigma do que estava online e o que realmente acontecia na vida real. Os Protestos começaram como uma forma de debate e interações de ideias que se formaram nos Grupos de Facebook, vídeos do Youtube e no compartilhamento de imagens de Páginas ou em Blogs que utilizam o sistemas de CMS (Content Manage System) inclusive o Blog do Planalto do Governo Brasileiro utiliza-se da Plataforma de Software Livre WordPress.Crevilaro (2013)
A internet se transforma em um grande referendo, onde perguntas e enquetes são respondidas em tempo real auxiliando empresas, pessoas e governantes a terem acesso aos reais anseios de uma massa sem a necessidade de levantar fundos grandiosos. É assim através de uma conversa informal, entre imagens de humor e vídeos e assuntos variados que deve estar o posicionamento para descobrir como chegar mais perto do povo, mesmo que de maneira digital porque o que começou em grupos digitais se transformou na formação da cibercultura, um ativismo computadorizado ou ciberativismo que resultou em uma grande mobilização social em junho de 2013.As Redes Sociais fazem parte do cotidiano da população e os brasileiros deixaram pra trás o aspecto largado das brincadeiras para buscar melhorias e amplitude em suas vozes através dos canais da internet.
https://corporacaoideias.com.br/2013/06/19/a-revolucao-das-redes-sociais
Para melhor entendimento sobre rede social e facebook pesquisar os sites: https://pt.wikipedia.org/wiki/Facebookehttps://corporacaoideias.com.br/2013/06/19/a-revolucao-das-redes-sociais-e-internet-brasileira-nos-manifestos/, além de assistir ao filme A Rede Social, um filme americano de 2010, sobre a fundação da rede social Facebook e seus desdobramentos. O roteiro de Aaron Sorkin adapta o livro de não-ficçãoThe AccidentalBillionaires, escrito por Ben Mezrich. Nenhum funcionário Facebook, ou seu fundador Mark Zuckerberg, se envolveu na produção do filme, embora Eduardo Saverin tenha sido um consultor para o livro de Mezrich. Foi distribuído pela Columbia Pictures e estreou em 1º de outubro de 2010 nos Estados Unidos, 4 de novembro de 2010 em Portugal e 3 de dezembro do mesmo ano no Brasil. Em alguns países o filme é classificado como "inadequado para menores de 14 anos", enquanto outros os cogitam para maiores de 16 anos. Mais informações sobre enredo, produção e críticas no site:https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Rede_Social.
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Em uma análise discursiva sobre o enunciado “Saímos do facebook” parte do contexto histórico ocorrido em junho de 2013, quando as ruas brasileiras foram invadidas por milhares de pessoas – em sua maioria, jovens – expressando um descontentamento profundo com os rumos do país. Em vez das faixas com as reivindicações organizadas de segmentos sociais, muitos carregavam cartazes, registrando sua demandas pessoais, sua raiva, sua criatividade. Com o atual ímpeto brasileiro de sair às ruas para pedir mudanças e criticar os governantes, atiçado pelo Movimento Passe Livre em São Paulo, um aparato retórico foi mobilizado nas ruas. Murano (2013) em seu ensaio A linguagem dos protestos afirma que os cartazes, faixas, slogans, gritos de guerra, pichações, entre outros recursos de contracomunicação, buscaram desestabilizar o discurso institucional e as respostas pré-fabricadas por assessores políticos. Sobretudo, buscaram ressignificar a realidade. Cada palavra dos manifestantes só tinha razão de ser como réplica a um contexto definido de antemão. Para tanto, não raro se valeram da sátira e da paródia para referenciar aquilo a que respondiam. "A eficácia do discurso do cartaz reside precisamente nesse poder de evocação de discursos anteriormente enunciados e não na relação entre tamanho e quantidade de informação", afirma Eduardo J. M. Camilo no artigo "Minoria tenebrosa, Maioria silenciosa - a sátira e a invectiva no cartaz político", no livro Comunicação e Poder [https://bit.ly/14X9xKk]. Entre os cartazes mais fortes fotografados nas ruas desde que os protestos começaram, já virou clássico o que diz "Saímos do Facebook", crítica bem-humorada aos chamados "ativistas de sofá". Assim, conclui-se a análise com uma afirmação de Chauí (2013)
Não se trata, como se ouviu dizer nos meios de comunicação, que finalmente os jovens abandonaram a “bolha” do condomínio e do shopping center e decidiram ocupar as ruas (já podemos prever o número de novelas e minisséries que usarão essa ideia para incrementar o programa High School Brasil, da Rede Globo). Simbolicamente, malgrado eles próprios e malgrado suas afirmações explícitas contra a política, os manifestantes realizaram um evento político: disseram não ao que aí está, contestando as ações dos Poderes Executivos municipais, estaduais e federal, assim como as do Poder Legislativo nos três níveis. Praticando a tradição do humor corrosivo que percorre as ruas, modificaram o sentido corriqueiro das palavras e do discurso conservador por meio da inversão das significações e da irreverência, indicando uma nova possibilidade de práxis política, uma brecha para repensar o poder, como escreveu um filósofo político sobre os acontecimentos de maio de 1968 na Europa. Chauí (2013).