GÊNERO CARTAZ
GÊNERO CARTAZ

 

conceituando e selecionando os cartazes para análise linguístico-discursivados manifestos sociais no Brasil - Abrahan Moles

            A segunda etapa da análise linguístico-discursiva dos manifestos sociais no Brasil é dividida em duas partes: a primeira parte de um estudo da obra O cartaz (2004) de Abraham Antoine Moles em que se procura fazer um aprofundamento sobre o gênero e sua relevância perante a pesquisa.

            Para Moles (2004) o objetivo de sua obra é a ênfase ao cartaz da cidade contemporânea, o da sociedade urbana, da paisagem urbana, que logo deve constituir o ambiente de 90% dos cidadãos consumidores. A partir desse objetivo e tendo como ponto de partida as manifestações sociais de 2013, percebe-se que o gênero mais utilizado como forma de reivindicação perante as demandas sociais foi o cartaz de protesto, situando como uma forma de expressar os eixos temáticos da massa popular.

            Moles afirma que vivemos em um mundo de imagens: a fotografia, o jornal, o cartaz, o cinema, a televisão que seriam os elementos motores do mundo exterior, que constitui a cultura: o ambiente artificial construído pelo homem. Há de se ressaltar que o autor francês escreveu o livro O cartaz em 1969 e com isso não deu destaque à internet, o grande boom da era da informação e comunicação, principalmente quanto aos gêneros textuais midiáticos, multimodais e o hipertexto que relacionam todas as outras imagens por ele relacionadas. Sendo que o cartaz não está presente no mundo real, mas em todo um contexto virtual. Moles em sua obra destaca as imagens fixas, que considera como a mais pura expressão do mundo das imagens.

         Esta aflora nitidamente das análises semânticas onde aparece uma correlação muito clara entre imagem e imagem fixa, que as opõem à imagem móvel, animada que alguns qualificam de viva, no caso da imagem fixa, nosso contato participa de uma certa objetividade; nada nos impede de a detalhar ou negligenciar, de ainda a olhar, de prolongar a nosso bel-prazer a sua fosforescência em nossa memória; nossas relações com ela, ao menos numa primeira aproximação, são as do ser com o objeto, este objeto que resiste a nossa ação: atirado contra nossa visão, relações de estabilidade e costume, de novidade imposta, ao mesmo título que um seixo ou uma árvore em nosso campo visual. Moles (2004, p.18).

            Moles (2004) destaca que a totalidade de imagens de cartaz no meio urbano pertence à categoria das imagens comentadas, isto é, aquelas cujo sentido se constrói tão somente por intermédio de uma palavra ou de um texto escrito, muitas vezes sumário, mas onde o binômio imagem + seu comentário é indissociável. Revela a situação de cartaz como mensagem da sociedade ao indivíduo, não é estática; pela sua repetição em múltiplas cópias postas em diferentes lugares, o cartaz se decalca pouco a pouco no cérebro dos membros da sociedade para aí se constituir num elemento de cultura. E assim, vai dissociar seus elementos conotativos e denotativos. Também afirma que o cartaz se desgasta sob o olhar e, como toda obra gráfica se banalizam, faz dissolver pouco a pouco o seu valor estético, à medida que ele é melhor compreendido e melhor aceito e que o choque de cores e de formas enfraquece.  Há de se concordar com o autor quanto ao cartaz como elemento concreto, real. Mas no campo virtual, o gênero torna-se inovador e atemporal, dependendo, claro, do interesse do internauta em avaliar os cartazes postados que  disponibilizam acesso cultural nos mais variados momentos históricos; resgatados e restaurados para uma maior visibilidade na esfera digital.

 

             

   
   

                                                                                                              Cartaz afixado e m locais públicos durante a ditaduraFonte:militarhttps://www.nosrevista.com.br/2010/04/26/comissao-da-verdade-se-reune-no-rio-de-janeiro/

   
   

         

   
   

             

   

Movimento Fora Collor–1992Fonte:https://instintocoletivounb.blogspot.com.br/2007_08_01_archive.html

   
   

Temos acessos a cartazes que variam desde o século XIX aos dias atuais.

 

             

   
   

             

   

Manifestações de junho de 2013 Fonte: https://permanecerecompartilhar.blogspot.com.br/2013/06/melhores-cartazes-e-frases-das.html

   
   

          

 

No segundo capítulo Dissociações culturais e conotações estéticas do livro O cartaz, Moles estabelece algumas condições para a existência do cartaz na cidade: 1- possibilidade técnica de ilustrar pela imagem em grande escala; 2- necessidade de reduzir o texto devido à velocidade de deslocamento do indivíduo em relação ao estímulo. O autor destaca um cartaz moderno será uma imagem em geral colorida contendo normalmente um único tema e acompanhado de um texto condutor, que raramente ultrapassa dez ou vinte palavras, portador de um único argumento. É feito para ser colado e exposto à visão do transeunte. Não esquecendo que o cartaz é também um veículo de comunicação em movimento, principalmente em mobilizações sociais. O cartaz é um elemento do mecanismo social. É um modo de comunicação de massa, criado para servir de auxiliar a um sistema institucional qualquer. Outro ponto definido por Moles quanto ao modo de apreensão do cartaz é o campo semântico e estético, importantes recursos para a análise linguístico-discursiva dos cartazes dos manifestos de junho de 2013.

            Toda mensagem entre comunicadores humanos se apresenta, de fato, ao analista, como a superposição de duas mensagens distintas: a primeira é a mensagem semântica, explicitada ou explicitável, integralmente traduzível, intacta, não importa qual seja o sistema linguístico efetivamente utilizado e que se baseia em um repertório de signos cujos elementos são enunciáveis pelo emissor e pelo receptor, e conhecidos antes do ato de comunicação. A mensagem estética ou conotativa, que se baseia num conjunto de elementos de percepção enumeráveis e armazenáveis pelo observador, o psicofísico que assiste à comunicação sem nela tomar parte, mas que são inconscientes, subconscientes ou implícitos tanto no receptor como no emissor, eles constituem um complexo sistema de comunicação; no momento do processo de comunicação, estes são ignorados pelo receptor enquanto signos, eles representam uma sobrecarga do ato de comunicação, um acréscimo efetivo que intervém diretamente na percepção. Moles (2004 p. 49).

            Em sua obra, Moles descreve seis funções que relaciona o cartaz com as diversas disciplinas:

  • Primeira função: liga-se mais diretamente à linguística. Apresenta-se ligado a uma ciência do signo (semiótica), a uma teoria do esquematismo, concebida como uma técnica de criação de signos, a uma sintática, enfim, a reger as conjunções de signos.
  • Segunda função: propaganda e publicidade, relaciona-se ao estudo e localização do cartaz em face de seus concorrentes na solicitação da atenção coletiva e ao estudo dos mecanismos econômicos da sociedade de consumo; constrói-se uma nova economia, em que o cartaz desempenha papel de motor.
  • Terceira função: educação, vincula-se aos problemas do repertório de conhecimentos, da psicologia social da cultura. O cartaz, fator de cultura, nos propõe o mesmo tempo valores e culturemas, ou átomos de cultura.
  • Quarta função: o da ambiência, está ligada a psicologia do ambiente urbano.
  • Quinta função: estética, está ligada a técnica de fabricação do cartaz e nos conduz a esquematizar os processos criadores do artista submetido a um caderno de encargos.
  • Sexta função: criadora, nos levará a enunciar os elementos de uma política cultural ao examinar as relações do artista gráfico e o cartazista com os outros membros da cidade artística e com os valores da sociedade global.

            Os cartazes dos manifestos ocorridos em junho de 2013 no Brasil tiveram várias funções, conforme a nomenclatura estabelecida por Moles e cuja relevância será fundamental para a análise linguístico-discursiva na próxima etapa da dissertação. Outro ponto a salientar é sobre o papel do cartaz e o comportamento dos cidadãos diante deles. Moles salienta que 80% dos cartazes que se apresentam à vista dos indivíduos não são simplesmente olhados, pois o tempo de apreensão pode durar apenas segundos, e este ou aquele indivíduo está apressado ou passeando. Em outro aspecto o cartaz em ambiente virtual é mais acessível e passível de análise por se encontrar em suporte estratégico e fixo. Alguns pontos importantes para a compreensão e análise do cartaz são:

  • A taxa de nível intelectual que está ligada ao quociente intelectual: a metáfora, o artifício, o jogo são possíveis apenas a partir de um certo nível deste quociente definível por experiências simples ligadas aos testes clássicos de Quociente Intelectual, mas adaptados ao cartaz: a imagem metafórica requer que se complete o termo ausente, conotativo.
  • O nível cultural: é a posse no repertório da memória de um certo número de associações propostas muitas vezes pela cultura popular no sentido de um mínimo de bagagem cultural: esta é fornecida, entre outras coisas, pelo conhecimento da linguagem corrente e pela linguagem da literatura ou do modo de vida. São eles, com efeito, que dão origem às associações de ideias, traduzidas por probabilidades de associações.
  • Modo de vida: em que medida o indivíduo, no seu comportamento presente ou futuro, é tocado pelas mensagens que recebe? A noção comporta duas partes: uma ligada ao cartaz, ou à mensagem que é um dos fatores determinantes da análise do conteúdo, a outra ligada ao modo de vida que define as características do receptor.
  • Psicológico: ligado aos níveis de consciência e de caráter psicanalítico, corresponde ao interesse pelo erotismo, aos interesses estéticos, à atenção às formas etc.

A esses fatores vão se juntar outros: econômicos e sociais – meios disponíveis, poder aquisitivo, necessidades etc. Efeito do cartaz ao definir o quadro geral de sua ação.            Nesse aspecto observaremos a relação entre os cartazes que serão analisados e os fatores a eles definidos. Em sua conclusão, Moles afirma que a retórica oral e visual do cartaz convence, argumenta, seduz e se impõe no momento em que os novos meios de comunicação de massa atribuem uma importância determinante à rentabilidade da comunicação. Nisso destaca que o cartaz é um elemento da civilização por serem fatores de novas imagens e de novas ideias em uma concepção de transformação social. Como foi demonstrado através de análise sobre o livro O cartaz, de Moles alguns pontos são observáveis para um eficiente estudo: A taxa de nível intelectual que está ligada ao quociente intelectual; O nível cultural; Modo de vida e o Psicológico.